Tive
uma experiência simples, porém, incrível.
Enquanto
fazia um serviço em casa, precisei da ajuda de outra pessoa, afinal, eu não
tinha tanta experiência assim. Para minha surpresa, quem veio para dar a mão
foi um vizinho da casa de meus pais onde eu estava, à primeira vista, sem
nenhuma diferença, porém, é deficiente auditivo, o que o impede de falar
também. Talvez por isso tenha se tornado tão habilidoso e atento a tudo ao seu
redor.
Mas
o que, de fato, me chamou a atenção foi o silêncio. Como ele nos ajuda a
trabalhar e olhar o mundo com mais calma e maior admiração. Executávamos a
tarefa somente a partir de gestos, e me deliciei com a ausência de sons,
inclusive da voz. Isso me ajudava a olhar mais e ouvir melhor. Pode parecer
paradoxal, mas é assim mesmo. O silêncio nos faz ouvir o necessário. Outras
coisas se tornam banais.
O
barulho, hoje, não está somente nos ruídos externos. Imagens, frases, opiniões
e julgamentos infundados são muito barulhentos também. E o que falar do
estrondo produzido pelos olhos e mãos grudadas na tecnologia digital? A
necessidade está na escuta. Nunca foi tão importante o ato de parar para ouvir
seja a própria voz, a do outro, do mundo e aquela voz superior a quem muitos
chamam de Deus.
Deixar
de lado o barulho seja de sons ou não, trará muita percepção, principalmente
aquela tão necessária para os dias atuais: a capacidade de acolher o outro, o
diferente, ou até mesmo aquele tão próximo, da mesma casa, do mesmo quarto. O
som, muitas vezes, desvia nossa atenção de alguns detalhes essenciais. Tantos
dizem só saber trabalhar com um aparelho sonoro ligado, pois traz mais
criatividade e destreza. Será que já provaram trabalhar ou criar no silêncio? O
resultado pode ser surpreendente. Se já o experimentou e não conseguiu, o tempo
não foi suficiente fazer a limpeza cerebral necessária. Tente.
A
experiência com o deficiente auditivo me trouxe benefícios. Foi um presente.
Ganhei uma chamada de atenção necessária para minha caminhada e a de tantos.
Aprendi mais uma vez que a pausa para o silêncio pode nos fazer maiores, mais
capazes e mais admiradores do que é simples e essencial: a vida.
Foto: Lucélia Arantes
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