Uma das tantas
coisas ensinadas por minha mãe, na infância, foi a de varrer o “terreiro”
(quintal da casa) na sexta-feira. Ela dizia para limparmos nesse dia, pois no
sábado, “Nossa Senhora” passaria por ele e nos faria uma visita. Assim, íamos
ao pasto colher galhos de alecrim, um tipo de capim cheiroso e eficiente para
tal finalidade. O próprio ato de sair de casa para buscar os ramos já era
motivo de contentamento, afinal, crianças se divertem e trazem um entusiasmo
enorme quando são convidadas a desempenharem uma tarefa importante e educativa
junto a um adulto. Isso as faz sentir úteis, respeitáveis.
Quando o
terreiro estava limpo, um ar leve corria por todos os lados e trazia um perfume
característico daquele tipo de mato utilizado na limpeza. Naquele momento, a
minha impressão era que tudo estava bom, pronto para uma grande festa, e que
minha casa era a mais linda de todas, pois o quintal estava limpo, sem qualquer
sujeira e empecilho. No sábado, pela manhã, um frescor tomava conta do espaço e
podíamos ver bem desenhadas as trilhas por onde passávamos, os espaços embaixo
das árvores detalhados pelo rastro da vassoura feita de alecrim. Gostávamos de
correr, de colocar nossos carrinhos de brinquedo naquele chão limpo e de ficar
ali à noite, sentados sobre um banco feito por um tronco cortado, a conversar
até a hora de dormir. Se
“Nossa Senhora” passou ali, é questão de fé, mas uma leveza e um contentamento
nos envolvia. Isso era certo.
Varrer o
terreiro é essencial. Quantas coisas juntamos durante o dia, a semana ou mês e
quem sabe, até anos e não varremos? Às vezes precisamos de um cheiro de alecrim
ou um ar novo de limpeza para melhorar nossa vida. As “visitas” acontecem a
cada hora em nosso coração, por isso ele deve estar sempre limpo, livre de
amarras, de mágoas, de qualquer empecilho que não nos deixem acolher os outros
em nossa casa, em nosso interior. É preciso varrer o quintal. Minha mãe estava
certa. O que sentimos quando o fazemos é sublime.
Quantas
trilhas e espaços dentro de nós precisam de uma boa limpeza e fortalecimento?
Eles desaparecem porque estão cheios de cacos espalhados, de resíduos que,
facilmente, conseguimos se limparmos o nosso “terreiro interior”. Pense nisso!
Foto: Lucélia Arantes
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