segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Varrer o "terreiro" (quintal)

Uma das tantas coisas ensinadas por minha mãe, na infância, foi a de varrer o “terreiro” (quintal da casa) na sexta-feira. Ela dizia para limparmos nesse dia, pois no sábado, “Nossa Senhora” passaria por ele e nos faria uma visita. Assim, íamos ao pasto colher galhos de alecrim, um tipo de capim cheiroso e eficiente para tal finalidade. O próprio ato de sair de casa para buscar os ramos já era motivo de contentamento, afinal, crianças se divertem e trazem um entusiasmo enorme quando são convidadas a desempenharem uma tarefa importante e educativa junto a um adulto. Isso as faz sentir úteis, respeitáveis.

Quando o terreiro estava limpo, um ar leve corria por todos os lados e trazia um perfume característico daquele tipo de mato utilizado na limpeza. Naquele momento, a minha impressão era que tudo estava bom, pronto para uma grande festa, e que minha casa era a mais linda de todas, pois o quintal estava limpo, sem qualquer sujeira e empecilho. No sábado, pela manhã, um frescor tomava conta do espaço e podíamos ver bem desenhadas as trilhas por onde passávamos, os espaços embaixo das árvores detalhados pelo rastro da vassoura feita de alecrim. Gostávamos de correr, de colocar nossos carrinhos de brinquedo naquele chão limpo e de ficar ali à noite, sentados sobre um banco feito por um tronco cortado, a conversar até a hora de dormir. Se “Nossa Senhora” passou ali, é questão de fé, mas uma leveza e um contentamento nos envolvia. Isso era certo.

Varrer o terreiro é essencial. Quantas coisas juntamos durante o dia, a semana ou mês e quem sabe, até anos e não varremos? Às vezes precisamos de um cheiro de alecrim ou um ar novo de limpeza para melhorar nossa vida. As “visitas” acontecem a cada hora em nosso coração, por isso ele deve estar sempre limpo, livre de amarras, de mágoas, de qualquer empecilho que não nos deixem acolher os outros em nossa casa, em nosso interior. É preciso varrer o quintal. Minha mãe estava certa. O que sentimos quando o fazemos é sublime.

Quantas trilhas e espaços dentro de nós precisam de uma boa limpeza e fortalecimento? Eles desaparecem porque estão cheios de cacos espalhados, de resíduos que, facilmente, conseguimos se limparmos o nosso “terreiro interior”. Pense nisso!        


Foto: Lucélia Arantes

 

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