segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Casa sacramento


Esta era a casa...
Morávamos, minha família e eu, numa casa simples, típica da época. Era a que meu pai, ainda solteiro, havia construído já com os olhos fixos em seu casamento. Talvez por isso até hoje, mesmo com a estrutura comprometida, ele utiliza os velhos cômodos para guardar utensílios, ferramentas e entulhar objetos que não mais utilizamos. Talvez por isso, também, faça questão de preservar da forma que está, mas nunca derrubá-la, por fazer parte de suas conquistas. Rubem Alves tinha razão ao dizer “quando as coisas despertam saudades e fazem brotar, no coração, a memória do amor e o desejo da volta, dizemos que são sacramentos” (Livro: Creio na ressurreição do corpo, Rubem Alves). 
Dessa forma, se aquela casa, apesar da simplicidade, faz brotar tantas emoções e sentimentos, é porque meu pai a considera como sacramento. E disso ninguém duvida. Quantas coisas, momentos ou pessoas tornam-se assim para nós. A casa de meus pais, a antiga, apesar de sua aparência velha, com algumas paredes já quebradas pelo tempo, é um lugar que considero “sagrado” por ter vivido ali os primeiros anos de minha vida e aprendido tanto. 
Tive oportunidade de estar lá dias desses e fiz questão de ficar por um momento dentro dela a observar cada detalhe. Meu antigo quarto, aliás, nosso, pois éramos muitos para poucas camas; a janela da cozinha de onde eu observava a marca do sol para saber o horário certo de me aprontar para a escola; a varanda onde ainda tem um forno grande à lenha que servia para assar biscoitos e tantas comidas gostosas. São sacramentos. Despertaram em mim uma enorme saudade e uma vontade de ficar, mas com direito a tudo como era antes. 
A vida é assim. Deus é assim: na simplicidade Ele se revela. Agradeço a meus pais por me mostrarem tudo isso. Que seu filho(a) possa te agradecer também um dia.


Foto: Lucélia Arantes

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