terça-feira, 12 de janeiro de 2016

A força do fogão a lenha


Era muito prazeroso acordar, todas as manhãs, com o cheiro do café preparado por minha mãe e pelo barulho que o papai fazia ao abrir as “tramelas” das janelas de madeira. Para quem nunca viu ou desconhece, tramela é uma pequena tábua que serve como tranca.
Tínhamos o costume de chegar na cozinha e sentar sobre uma das partes do fogão a lenha. No máximo, davam para ficar duas crianças, o que fazia surgir disputas pelo aconchego. Embora não coubessem todos, o fogão reunia a família. Ficávamos ao redor para tomarmos o café. Chamávamos de “tirijum”, derivado da palavra “desjejum”. Como era bom! Hoje bate a saudade daqueles encontros.
O fogão a lenha era a televisão ou o computador de hoje, porém com uma diferença enorme: olhávamos não uma tela, mas nos olhos uns dos outros. Podíamos falar sobre algo, discutir, contar piadas, fazer planos, sonhar e viver. Aprendíamos com as histórias que nossos pais nos contavam. Ouvíamos, pelo rádio, as primeiras músicas das manhãs. Elas, geralmente, falavam de coisas típicas da vida na roça,  de amores e desamores, de histórias bem contadas e, sobretudo, cantadas.
Para acender o fogo naquele tipo de fogão era necessário técnica. Não podia ser de qualquer jeito, senão o que se via era só fumaça para arder os olhos. Colocar um "pau de lenha"  mais grosso para que as chamas ficassem mais fortes e permanecessem por maior tempo era o básico. No decorrer do dia era só alimentá-lo com gravetos ou palhas ou sabugos de milho. Há uma teologia nisso. Pense bem.
Que saudades do fogão a lenha. Que saudades de nossos encontros que não acontecem com tamanha naturalidade e sem intervenções. Quem sabe, hoje, o espaço e o fogão sejam outros. Façamos acontecer!


Foto: Lucélia Arantes



Nenhum comentário:

Postar um comentário