
Tínhamos
o costume de chegar na cozinha e sentar sobre uma das partes do fogão a lenha.
No máximo, davam para ficar duas crianças, o que fazia surgir disputas pelo
aconchego. Embora não coubessem todos, o fogão reunia a família. Ficávamos ao
redor para tomarmos o café. Chamávamos de “tirijum”, derivado da palavra
“desjejum”. Como era bom! Hoje bate a saudade daqueles encontros.
O fogão a lenha era a televisão ou o computador de hoje, porém com uma diferença
enorme: olhávamos não uma tela, mas nos olhos uns dos outros. Podíamos falar
sobre algo, discutir, contar piadas, fazer planos, sonhar e viver. Aprendíamos
com as histórias que nossos pais nos contavam. Ouvíamos, pelo rádio, as
primeiras músicas das manhãs. Elas, geralmente, falavam de coisas típicas da
vida na roça, de amores e desamores, de histórias bem contadas e,
sobretudo, cantadas.
Para
acender o fogo naquele tipo de fogão era necessário técnica. Não podia ser de
qualquer jeito, senão o que se via era só fumaça para arder os olhos. Colocar
um "pau de lenha" mais grosso para que as chamas ficassem mais
fortes e permanecessem por maior tempo era o básico. No decorrer do dia era só
alimentá-lo com gravetos ou palhas ou sabugos de milho. Há uma teologia nisso.
Pense bem.
Que
saudades do fogão a lenha. Que saudades de nossos encontros que não acontecem
com tamanha naturalidade e sem intervenções. Quem sabe, hoje, o espaço e o
fogão sejam outros. Façamos acontecer!
Foto: Lucélia Arantes
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