Pode parecer um tanto estranho ou contraditório àquilo que
sempre vivi, principalmente para quem me conhece há muito e de maneira mais
profunda, mas quero falar da frase: “Jesus te ama”. Na verdade, não exatamente
da expressão, mas da forma como é utilizada e pronunciada por muitos.
É muito comum, em alguns momentos, chegar uma pessoa,
olhar em nossos olhos – ou não – e pronunciar num tom de voz quase orante
“Jesus te ama”. Utilizo aqui o termo “quase”, pois percebo uma falta de firmeza
e mesmo de verdade por parte de alguns ou da maioria que a repetem
exaustivamente. É preocupante que saiam por aí a dizer por dizer tal frase.
Vamos à Bíblia. Se prestarmos atenção, Jesus não abusa da
expressão amor enquanto substantivo. Quando a pronuncia, traz o sentido de verbo,
pois este precisa de ação. No evangelho de João, ao perguntar para Pedro se ele
o ama, vem, de imediato, o pedido do mestre: “Cuide de minhas ovelhas” (conf.
Jo 21, 15). Aos discípulos, na última ceia, disse: "Este cálice é a nova
aliança do meu sangue, que é derramado por vocês" (Lc 22,20). É como
se ouvíssemos de Jesus: Eu entrego a minha vida por vocês, e não simplesmente
“Eu te amo”, sem complemento ou compromisso. Mais importante que dizer, é ser,
é fazer. A palavra desaparece como uma fumaça. Precisamos ter atitudes. Dizer
“Jesus te ama” deve partir do coração e do testemunho. Muitas vezes nem é
necessário que se diga. A nossa ação falará por nós.
Numa sociedade que vive do egocentrismo em meio a tantos
“selfies” desnecessários, narcisismos que nada nos faz crescer enquanto seres
realmente humanos, a frase “Jesus te ama” ou até mesmo “Você sabe que eu te
amo”, ou qualquer coisa parecida, se não vem carregada de compromisso e de
cuidado pelo outro, de entrega, de verdade, não fará sentido e não merecerá
qualquer “curtida” sequer que seja “compartilhada”.
Portanto, ao pensar em pronunciar uma expressão que
provoque impacto ou que, de fato, cure qualquer ferida, primeiro seja
protagonista. Creia no amor de Jesus, entenda-o e vivencie-o primeiro. Aqueles
que passavam e nada faziam também falavam do amor de Deus para as pessoas, mas
somente o “samaritano” que passou, parou e acolheu aquele que estava ferido é
que viveu esse amor e pode falar dele. É preciso dizer “Jesus te ama”, mas de
uma outra forma: “Jesus entregou a vida por nós”. Se alguém não entender que
essa foi a maior forma de amor...