O jovem universitário, no assento
do ônibus, lia suas anotações com determinação. Supostamente ele faria uma
avaliação assim que chegasse em sua Universidade. Muitas delas estavam
sinalizadas com marca-texto, aquele de cor verde-limão. Bom, esse detalhe não é
lá grandes coisas.
Como eu estava em pé, porque
acredito que qualquer leitor saiba: numa cidade como São Paulo, no horário de
pico, é premiado aquele ou aquela que consegue um lugar ao sol, digo, um
assento livre dentro do ônibus. Já tal pormenor é grande coisa, apesar do
paradoxo entre os termos, pois é uma situação angustiante que os trabalhadores
enfrentam todos os dias, mas voltemos ao jovem universitário.
O fato de ele estudar numa
situação dessas é muito comum, mas o que despertou a minha atenção foi que,
entre as palavras de suas anotações, escritas à mão – o que hoje em dia é raro –
vi a expressão “capitalismo” escrita com “p” mudo: “captalismo”. E não foi uma
vez. Vi que todas as vezes que aparecia o termo, a grafia era a mesma. Ou ele
absorveu tanto a ideia de tal sistema, a ponto de “economizar” a vogal “i”, sei
lá, por ser adepto da ideia de que é preciso guardar para que se tenha mais no
futuro; ou, o que me parece ser, infelizmente, a mais pura realidade, o
universitário escreve da maneira que lhe convém, afinal, o adjetivo já diz
tudo: jovem universitário. Ele já o é por excelência. Não é necessário saber
que a palavra “capitalismo”, tão usual, não é escrita com “p” mudo.
A etapa mais importante em uma
construção, nem é preciso perguntar a um engenheiro ou pedreiro, é a base. Tudo
se sustenta a partir dela. Quanto mais firme, mais seguro será o edifício ou o
sobrado ou a casa. Corre-se o risco de um desmoronamento ou de uma rachadura
acontecer durante ou depois que já estiver edificado. A educação é assim. Seja
feita uma boa base. Exija de cada etapa o que convém, senão depois a gente pode
se deparar com tais desmoronamentos: o perigo de escrever uma palavra tão usual
com uma economia desnecessária.
Não pude observar mais, pois um
dos assentos ficou livre para mim. Se eu não o ocupasse, correria o sério risco
de chegar em meu local de trabalho já cansado por ter feito a entediante viagem
em pé. Esse mundo “captalista” é assim mesmo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário