terça-feira, 13 de junho de 2017

O valor de uma base sólida

O jovem universitário, no assento do ônibus, lia suas anotações com determinação. Supostamente ele faria uma avaliação assim que chegasse em sua Universidade. Muitas delas estavam sinalizadas com marca-texto, aquele de cor verde-limão. Bom, esse detalhe não é lá grandes coisas.
Como eu estava em pé, porque acredito que qualquer leitor saiba: numa cidade como São Paulo, no horário de pico, é premiado aquele ou aquela que consegue um lugar ao sol, digo, um assento livre dentro do ônibus. Já tal pormenor é grande coisa, apesar do paradoxo entre os termos, pois é uma situação angustiante que os trabalhadores enfrentam todos os dias, mas voltemos ao jovem universitário.
O fato de ele estudar numa situação dessas é muito comum, mas o que despertou a minha atenção foi que, entre as palavras de suas anotações, escritas à mão – o que hoje em dia é raro – vi a expressão “capitalismo” escrita com “p” mudo: “captalismo”. E não foi uma vez. Vi que todas as vezes que aparecia o termo, a grafia era a mesma. Ou ele absorveu tanto a ideia de tal sistema, a ponto de “economizar” a vogal “i”, sei lá, por ser adepto da ideia de que é preciso guardar para que se tenha mais no futuro; ou, o que me parece ser, infelizmente, a mais pura realidade, o universitário escreve da maneira que lhe convém, afinal, o adjetivo já diz tudo: jovem universitário. Ele já o é por excelência. Não é necessário saber que a palavra “capitalismo”, tão usual, não é escrita com “p” mudo.
A etapa mais importante em uma construção, nem é preciso perguntar a um engenheiro ou pedreiro, é a base. Tudo se sustenta a partir dela. Quanto mais firme, mais seguro será o edifício ou o sobrado ou a casa. Corre-se o risco de um desmoronamento ou de uma rachadura acontecer durante ou depois que já estiver edificado. A educação é assim. Seja feita uma boa base. Exija de cada etapa o que convém, senão depois a gente pode se deparar com tais desmoronamentos: o perigo de escrever uma palavra tão usual com uma economia desnecessária.

Não pude observar mais, pois um dos assentos ficou livre para mim. Se eu não o ocupasse, correria o sério risco de chegar em meu local de trabalho já cansado por ter feito a entediante viagem em pé. Esse mundo “captalista” é assim mesmo!

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