domingo, 18 de junho de 2017

Olhares...

Eu gosto do olhar!

Eu gosto da verdade que os olhos revelam.

Eu gosto dos olhos...

Eu gosto do levantar das sobrancelhas quando o encontro é surpreendente e inesperado.

Eu gosto dos cílios carregados de restos de lágrimas que, por tantos motivos, trazem uma história alegre ou triste...

Eu gosto do olhar!

Apaixono-me pelos olhos que se direcionam ao mais necessitado, ao que carece de atenção e amor e carinho, e abraço.

Gosto dos olhos que se voltam para o Criador, que reconhecem a presença de um Outro que se fez humano e que se aproxima e se deleita com aquilo que nos é tão particular e mais humano ainda...

Eu gosto do olhar quando carrega um segredo e sabe nos deixar curiosos.

Eu gosto dos olhos que transmitem paz, que me deixam seguro ao dizer, sem a necessidade de pronunciar: “Confie em mim! Segure minha mão e caminhe comigo”.

Apaixono-me pelo olhar tímido que, lentamente, acaba por se mostrar o mais acolhedor e se derrama em sentimento puro.

Eu gosto dos olhos da criança a pedir para brincar e se atirar na lama juntos, daquela que acompanha um contar de histórias movendo os olhos para cada acontecimento.

Eu gosto do olhar profundo, mas que se apresenta na simplicidade, e do olhar que arrebata e exala o mais intenso brilho, a mais estranha e desejável paixão.

Eu gosto dos olhos, apaixono-me pelo olhar...





Imagem: pixabay.com

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Aproximar-se

Numa de minhas viagens para o interior de Minas, lugar onde meus pais moram e, claro, onde nasci, fiquei a observar algumas casas, dessas que ficam em meio a árvores, e distantes, lá no pé da montanha. Foi fácil imaginar o jeito gostoso de como deve ser a vida ali, naquele canto aparentemente de paz. Isso mesmo, aparente, pois uma de nossas manias é pensar que a beleza do lugar, visto de longe, livra-o de ter seus problemas típicos.
Demoramos para entender que contratempos e dificuldades existem em qualquer lugar, que ali a vida pode ser dura, afinal as muitas facilidades de quem vive numa zona urbana, não encontramos lá no pé da Serra ou no meio do Cerrado. A recíproca é também verdadeira.

É preciso aproximar-se para conhecer, para ver de perto e até mesmo fazer a experiência com quem está distante. Pode ser que tenhamos boas surpresas, mas pode também não ser. Tal qual o drama do palhaço que, por fora transborda de alegria, mas é capaz de esconder uma dor interna, incompatível com os montões de cores e acessórios que o fazem engraçado.
Olhar tudo desde a comodidade do nosso lugar e tecer apontamentos que julgamos certos pode ser perigoso.
É necessário que nos aproximemos; que deixemos de analisar as coisas e as pessoas a partir daquilo que, para mim ou para o meu grupo seleto, é bom ou ruim.
A beleza pode vir da paisagem, mas a realidade está além. Aproxime-se e entenda!




Imagem: http://blog.chicomaia.com.br/wordpress/wp-content/uploads/2012/12/118.jpg

terça-feira, 13 de junho de 2017

O valor de uma base sólida

O jovem universitário, no assento do ônibus, lia suas anotações com determinação. Supostamente ele faria uma avaliação assim que chegasse em sua Universidade. Muitas delas estavam sinalizadas com marca-texto, aquele de cor verde-limão. Bom, esse detalhe não é lá grandes coisas.
Como eu estava em pé, porque acredito que qualquer leitor saiba: numa cidade como São Paulo, no horário de pico, é premiado aquele ou aquela que consegue um lugar ao sol, digo, um assento livre dentro do ônibus. Já tal pormenor é grande coisa, apesar do paradoxo entre os termos, pois é uma situação angustiante que os trabalhadores enfrentam todos os dias, mas voltemos ao jovem universitário.
O fato de ele estudar numa situação dessas é muito comum, mas o que despertou a minha atenção foi que, entre as palavras de suas anotações, escritas à mão – o que hoje em dia é raro – vi a expressão “capitalismo” escrita com “p” mudo: “captalismo”. E não foi uma vez. Vi que todas as vezes que aparecia o termo, a grafia era a mesma. Ou ele absorveu tanto a ideia de tal sistema, a ponto de “economizar” a vogal “i”, sei lá, por ser adepto da ideia de que é preciso guardar para que se tenha mais no futuro; ou, o que me parece ser, infelizmente, a mais pura realidade, o universitário escreve da maneira que lhe convém, afinal, o adjetivo já diz tudo: jovem universitário. Ele já o é por excelência. Não é necessário saber que a palavra “capitalismo”, tão usual, não é escrita com “p” mudo.
A etapa mais importante em uma construção, nem é preciso perguntar a um engenheiro ou pedreiro, é a base. Tudo se sustenta a partir dela. Quanto mais firme, mais seguro será o edifício ou o sobrado ou a casa. Corre-se o risco de um desmoronamento ou de uma rachadura acontecer durante ou depois que já estiver edificado. A educação é assim. Seja feita uma boa base. Exija de cada etapa o que convém, senão depois a gente pode se deparar com tais desmoronamentos: o perigo de escrever uma palavra tão usual com uma economia desnecessária.

Não pude observar mais, pois um dos assentos ficou livre para mim. Se eu não o ocupasse, correria o sério risco de chegar em meu local de trabalho já cansado por ter feito a entediante viagem em pé. Esse mundo “captalista” é assim mesmo!