sexta-feira, 1 de abril de 2016

Alpendres


Lá havia um banco feito de madeira, não muito alto tampouco grande, daqueles que têm um triângulo vazado em cada ponta e que fazem a parte dos pés; três canos de ferro colocados entre a mureta e o telhado como sustentação e, ao mesmo tempo, era a ornamentação daquele tempo. Chamávamos de “alpendre”, uma espécie de recepção antes de entrarmos na sala da casa. Era ali que brincávamos, onde os adultos se sentavam para conversar e observar a parte externa da casa, o entardecer, principalmente. As crianças brincavam de pique-pega ou simplesmente de se entrelaçarem nos canos do alpendre. Um cheiro de café vinha lá da cozinha, o que justificava a ausência da dona da casa ali, naquele momento. E, no ponto alto da conversa, das brincadeiras, um prato esmaltado e copos tipo americano eram depositados na mureta junto a uma garrafa do delicioso café.
Coisas que a vida na simplicidade nos proporcionava e que, para alguns, ainda proporciona. Voltemos aos alpendres, mesmo que as estruturas das casas hoje não nos permitam. Temos sempre sede desse encontro de fim de tarde, das brincadeiras que nos tiram da acomodação e nos devolvem o contato com o natural. O nosso coração precisa ter um espaço onde possamos acolher as pessoas de uma forma especial, onde tenhamos todo o tempo do mundo para sentarmos no banco de madeira (ou não), conversar, saborear um café e poder observar as crianças a correrem livremente sem medo do amanhã ou da esquina ou da clausura. O alpendre, embora aberto, é seguro, lugar para se abrigar da chuva ou até mesmo para observá-la; é o lugar do encontro e da acolhida. Entrar na casa, depois disso, chama-se confiança.

Nenhum comentário:

Postar um comentário