Lá havia um banco feito de
madeira, não muito alto tampouco grande, daqueles que têm um triângulo vazado
em cada ponta e que fazem a parte dos pés; três canos de ferro colocados entre
a mureta e o telhado como sustentação e, ao mesmo tempo, era a ornamentação
daquele tempo. Chamávamos de “alpendre”, uma espécie de recepção antes de
entrarmos na sala da casa. Era ali que brincávamos, onde os adultos se sentavam
para conversar e observar a parte externa da casa, o entardecer,
principalmente. As crianças brincavam de pique-pega ou simplesmente de se
entrelaçarem nos canos do alpendre. Um cheiro de café vinha lá da cozinha, o
que justificava a ausência da dona da casa ali, naquele momento. E, no ponto
alto da conversa, das brincadeiras, um prato esmaltado e copos tipo americano
eram depositados na mureta junto a uma garrafa do delicioso café.
Coisas que a vida na simplicidade
nos proporcionava e que, para alguns, ainda proporciona. Voltemos aos
alpendres, mesmo que as estruturas das casas hoje não nos permitam. Temos
sempre sede desse encontro de fim de tarde, das brincadeiras que nos tiram da
acomodação e nos devolvem o contato com o natural. O nosso coração precisa ter
um espaço onde possamos acolher as pessoas de uma forma especial, onde tenhamos
todo o tempo do mundo para sentarmos no banco de madeira (ou não), conversar,
saborear um café e poder observar as crianças a correrem livremente sem medo do
amanhã ou da esquina ou da clausura. O alpendre, embora aberto, é seguro, lugar
para se abrigar da chuva ou até mesmo para observá-la; é o lugar do encontro e
da acolhida. Entrar na casa, depois disso, chama-se confiança.
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