De
todos os desejos, vontades e sonhos que ouvimos das pessoas neste fim de 2020,
a frase que mais se destaca é: "Cancele 2020" ou "Acabe,
2020!"...
Mas será que precisamos cancelar ou até mesmo esquecer tal ano?
Incontestavelmente foi um período duro, complicado e
triste para muitos. Todos sentimos, de alguma forma, as consequências de um ano
desastroso. Mas cancelar um tempo vivido não é assim tão fácil nem necessário,
afinal, experiências, por mais dolorosas que sejam, podem nos fazer crescer se,
de fato, quisermos.
O que devem, de forma urgente, ser canceladas ou destruídas são outras tantas coisas.
Ao mudar o último algarismo do ano em curso, temos uma oportunidade para começar de uma forma diferente, aliás, cada vez que o sol se põe no horizonte, ele anuncia uma nova chance de mudança, que virá com seu nascimento.
Se for para acabar, que seja a desesperança, que não nos permite dar o próximo passo.
Que cancelemos a hipocrisia, pois ela
nos mostra um ser humano de aparências, sem autenticidade, sem verdade naquilo
que diz e faz; cria um abismo entre o que nos é mostrado numa tela com o
que se é, de fato.
Que se acabem os interesses que nos
aproximam uns dos outros, mas permitem que a distância seja absurdamente visível
na convivência, na forma de agir, nas atitudes nada acolhedoras.
Que sejam canceladas algumas formas de
vivenciar a fé, a devoção, a crença, pois algumas delas nos afastam do que é humano numa
tentativa de nos aproximar de um "divino" que não abraça nem se
compadece do outro.
Que se acabem os discursos cheios do
nome de "Deus", mas vazios de amor, revelando-nos uma outra face: a do preconceito,
do egoísmo, do desafeto, da separação.
Que sejam cancelados os abusos de
autoridade, os falsos líderes e profetas que, em vez de criar laços, erguem muros,
propagam mentiras, exaltam as armas, disseminam ódio...
Canceladas sejam as máscaras, aquelas
que ficam por detrás das de tecido, pois o que conta é a verdadeira face, com
todos os traços, com todas as marcas criadas pelo tempo e pelas experiências.
Cancele o coração cheio de mágoas e se abra ao perdão como,
efetivamente, deve ser! Que se acabe o medo de pronunciar as frases "Eu errei", "Eu te perdoo", "Eu te amo"...
Há muito o que cancelar, bem mais que
fingir que o ano de 2020 não tenha existido!
Cancelemos o que, de fato, é
necessário. Só assim poderemos viver algo novo a partir da virada do ano e do nascer do sol...